top of page

APRESENTAÇÃO

 

Em suas duas primeiras edições (2017 e 2018), o projeto atuou em Cachoeiras de Macacu/RJ, a partir de uma confluência com outros grupos de pesquisa que também desenvolviam trabalhos na região, a saber, o GeoAgrária da Faculdade de Formação de Professores da UERJ, coordenado pelo professor Paulo Alentejano, o Observatório Fundiário Fluminense da UFF, coordenado pela professora Ana Maria Motta Ribeiro, e o Grupo de Trabalho em Assuntos Agrários da Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seções Rio e Niterói (GT Agrária – AGB). O projeto contou com a parceria do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que atua na região organizando os agricultores na resistência frente ao projeto de construção de uma barragem no Rio Guapiaçu. Por fim, contou com o apoio da Secretaria Municipal de Educação de Cachoeiras de Macacu, e da atualmente extinta Coordenadoria Estadual por Memória, Verdade e Educação em Direitos Humanos, da Superintendência de Promoção de Direitos Humanos, da Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos do Rio de Janeiro, que dava continuidade aos trabalhos da extinta Comissão Estadual da Verdade do Rio.

Cachoeiras de Macacu é o município fluminense com o maior número de camponeses presos e mortos durante a ditadura, segundo os dados obtidos pela pesquisa anteriormente mencionada. Buscou-se, com essa iniciativa, atender a uma demanda dos agricultores de Cachoeiras de Macacu vinculados ao MAB. Esses agricultores, por ocasião de uma atividade de apresentação dos resultados da pesquisa aos moradores da localidade de Serra Queimada, área ameaçada pelo projeto de barramento do Rio Guapiaçu, sugeriram que essa mesma atividade fosse desenvolvida junto aos professores do município, a fim de possibilitar que os filhos dos camponeses tivessem a oportunidade de conhecer a história de luta de seus antepassados.

Nas duas primeiras edições, o projeto realizou oficinas com professores do ensino básico de Cachoeiras de Macacu, com os seguintes objetivos:

  • chamar a atenção para a importância da memória das lutas pela terra, seja para subsidiar as lutas do presente e do futuro, seja para valorizar as conquistas já alcançadas;

  • fazer frente ao silenciamento acerca da repressão ocorrida no meio rural brasileiro e fluminense, o que gera esquecimento e perpetuação de práticas de violência;

  • promover uma educação em direitos humanos que inclua o direito à terra como um direito fundamental;

  • oportunizar aos estudantes universitários participantes do projeto o desenvolvimento de atividades pedagógicas de modo a favorecer a troca de saberes e experiências;

  • contribuir com o MAB no sentido de subsidiar a resistência dos agricultores ameaçados pelo projeto de construção da Barragem do Rio Guapiaçu.

 

Em 2020, o projeto realizou uma nova edição do curso, agora com professores de Campos dos Goytacazes, buscamos expandir o esforço de valorizar as memórias das lutas pela terra e por direitos trabalhistas no Rio de Janeiro para outra região que também possui um histórico de conflitos rurais e onde também houve repressão contra trabalhadores rurais. Assim, consideramos que os objetivos permanecem, exceto em relação ao último. Em Campos, buscamos contribuir com o MST e os demais movimentos e organizações envolvidas nas lutas contemporâneas por reforma agrária, direitos trabalhistas e participação democrática.

Neste ano de 2021, além de estar preparando uma nova edição do curso em Campos, o projeto estabeleceu uma parceria com a Secretaria de Educação de Cabo Frio para desenvolver uma nova edição do curso para os professores desse município. Ao tratar dos conflitos decorrentes da antiga Fazenda Campos Novos, o curso buscará abordar as memórias dos conflitos fundiários da Região dos Lagos como um todo. Além disso, contando com a parceria da Associação de Comunidades de Remanescentes de Quilombos do Estado do Rio de Janeiro (Acquilerj), representada pela professora Gessiane Ambrósio, o projeto dará especial atenção aos históricos das comunidades que atualmente se reconhecem como remanescentes de quilombos.

Finalmente, esperamos estimular a incorporação do estudo da história das lutas locais no currículo das escolas. Consideramos central o papel dos professores na recuperação da memória seletivamente apagada pelas elites agrárias e pelos demais grupos que sustentaram a ditadura empresarial-militar e a repressão violenta conduzida pelo Estado contra os camponeses.

----------------------------------------------------------------------------------

Legenda das fotos da página inicial (em sentido horário):

1) Desenho de Silas Borges, militante do MAB, retratando os incêndios de casas praticados pela Guarda Rural do Ibra no final dos anos 1960 no núcleos coloniais da Baixada Fluminense.

2) Desenho de Raiene Evangelista, também militante do MAB, retratando os despejos arbitrários cometidos por policiais e agentes privados ao longo da história.

3) Camponeses reunidos após despejo em Magé. Fonte: Jornal Última Hora, 10/06/1963.

4) Camponeses da Fazenda Lagoinhas, Cachoeiras de Macacu, presos após um conflito fundiário que resultou na morte de um militar que estava grilando terras na região. Fonte: Jornal O Globo, 18/01/1969.

5) Manifestação de camponeses fluminenses por reforma agrária. Fonte: Jornal Última Hora, 08/02/1962.

6) Camponeses em protesto contra a expropriação de suas terras por conta da construção do Porto do Açu. Fonte: Jornal Folha1, 19/07/2017.

7) Casarão sede da Fazenda Mocotó, no Imbé (Campos dos Goytacazes), lugar emblemático da luta pela terra no Rio de Janeiro dos anos 1960. Foto: Delma Pessanha Neves, 17/11/2014.

Criado em 2017, o Projeto de Extensão Memórias das Lutas pela Terra é um desdobramento de uma pesquisa anteriormente realizada sob a coordenação da professora Leonilde Servolo de Medeiros (CPDA/UFRRJ), intitulada “Conflitos e Repressão no campo no Estado do Rio de Janeiro (1946-1988)”. Voltada a subsidiar os trabalhos da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro a respeito das violações de direitos humanos cometidas contra camponeses no território fluminense, a pesquisa contou com o apoio da Fundação Carlos Chagas de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) por meio do Edital nº 38/2013 – Programa “Apoio ao estudo de temas relacionados à memória, à verdade e à justiça relativas a violações de direitos humanos no período de 1946 a 1988”, que aprovou também outros seis projetos coordenados por pesquisadores de universidades fluminenses. Acesse aqui o relatório com os resultados da pesquisa e aqui o livro com o aprofundamento dos casos mais emblemáticos. O livro também pode ser adquirido em formato impresso no site da editora.

bottom of page